A receita que trago é fácil e rápida de confeccionar. Queques de noz. Sim, claro, leva nozes. Mas podem, com certeza, ser substituídas por outro fruto seco: macadâmia, castanha do Pará, avelã. Não experimentei, mas calculo que fique igualmente saboroso. Eu preferi aa nozes. E, para as partir, precisei de um quebra-nozes. Enquanto o utilizava, ia pensando na relação do objecto com a sua utilização em termos artísticos. E, num instante, recordava o livro de Hoffmann e a composição musical de Tchaikovski e desta segui, inevitavelmente, para o ballet coreografado por Petipa.
Imagem: cortesia da CroatiaWeek
O pequeno conto de E. T. Hoffmann (nascido na Prússia, em Könisberg, hoje Kaliningrad, na Rússia) é publicado em livro, numa obra conjunta de 3 autores, em alemão; entitulava-se: Nussknacker und Mausekönig (O Quebra-nozes e o Rei dos Ratos) e apareceu em 1816.
O conto vem trazer protagonismo a um quebra-nozes, boneco de
madeira pintada, tradicionalmente modelado com o formato de soldado, muito em voga na Europa central, no séc. XIX, mas que entre nós não tinha habitualmente essa forma. O boneco tinha uma boca articulada, onde era colocada a noz; com a alavanca de madeira, existente na parte de trás, fazendo-se pressão, o queixo do boneco subia e partia-se a casca do fruto.
Alexandre Dumas (pai) irá traduzir o conto para francês, em 1844 e, a partir daí, a história vai cativando um público cada vez mais alargado. É a partir desta versão que o russo Piotr I. Tchaikovski compõe, em 1892, a peça musical dividida em 2 actos, 3 cenas e 15 números, a pedido de Marius Petipa, seu conterrâneo, que, juntamente com Lev Ivanov, coreografam a peça para o ballet, estreando-a em S. Petersburgo.
É hábito fazer-se referência ao Quebra-nozes durante a quadra natalícia, pois o conto está com ela relacionado. Se não conhece a história, pode aproveitar e, dando uma espreitadela à página de Paula Rodrigues, fica a par. Está aqui.
Mas os meus queques comem-se em qualquer época, seja ou não Natal.
E as relações que eles evocaram são demasiado interessantes para se reservarem. Dito isto:
Excelente espectáculo, o do Russian Classic Ballet. O vídeo que escolhi e aqui colocara anteriormente era também relativo à peça do Quebra-nozes, embora dançada pelo Bolshoi-Brasil. Passou a ser de domínio privado, mas como está disponível para inscritos no Youtube, recomendo. Estão de parabéns, os brasileiros, pela qualidade do espectáculo apresentado, com coreografia de Vladimir Vasiliev, o bailarino russo, que é também coreógrafo e director. Lindo.
Lindas também muitas das outras versões e adaptações a que a obra de Hoffmann deu origerm. Entre elas, a de George Balanchine, nascido Georgy Balanchivadze, em S. Petersburgo (mais tarde, naturalizado americano), bailarino, músico e coreógrafo, que trará a público, em 1954, a sua versão do Quebra-nozes, já na companhia do russo Serge Diaghilev e dos Ballets Russes. A informação detalhada sobre uns e outros pode-se ler, em inglês, aqui.
O trabalho de Balanchine pode ainda ser visto em apresentações mais recentes. Esta tem a vantagem de nos permitir estabelecer também um contraponto com o ballet inglês dançando a mesma peça.
Embalados pela música de Tchaikovski, lá fomos partindo as nozes.
E, uma vez que temos as remissões tratadas, podemos pôr, finalmente, a mão na massa. E em mais nozes.
Trouxe emprestada esta gravura do fruto em questão da bonita página de Denise Gomes Ludwig, Diário com a natureza. Agora a receita.
QUEQUES DE NOZ (sem glúten, sem lactose).
Ingredientes:
5 colh./sopa de mel
1 colh./sopa de açúcar amarelo (ou mascavado)
2 colh./sopa de farinha de amêndoa
2 colh./sopa de farinha de arroz
1 colh./sopa de polvilho doce
1 colh./sopa de canela
1 colh./sopa rasa de fermento
2 ovos
2 colh./sopa de óleo de côco (ou margarina/manteiga)
60 + 10 gr. de nozes grosseiramente picadas
Preparação:
Num recipiente colocar os líquidos: mel, ovos e óleo.
Depois de bem misturados, adicionar os secos (açúcar, farinhas, polvilho, canela e fermento).
Por fim, adicionar os 60 gr. de nozes; envolva sem bater.
Untar formas de queque com margarina e encher até 3/4. Dá para 6 queques, esta quantidade.
Vão ao forno médio (160º a 165º em forno eléctrico ventilado; ou 170º a 175º em forno a gás). As indicações das temperaturas não são rigorosas, dependem do forno e do tamanho das formas.
Levam cerca de 20 a 25 min. O teste do palito ajuda a verificar se já estão prontos. Ao retirar do forno, decore com as nozes restantes. Bom apetite.
(receita adaptada de: https://raquelicias.com.br)