Quem Rasgou os Meus Lençóis de Linho
Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho,
Onde esperei morrer, meus tão castos lençóis?
Do meu jardim exÃguo os altos girassóis
Quem foi que os arrancou e lançou no caminho?
Quem quebrou (que furor cruel e simiesco!)
A mesa de eu cear, - tábua tosca de pinho?
E me espalhou a lenha? E me entornou o vinho?
- Da minha vinha o vinho acidulado e fresco...
Ó minha pobre mãe!... Não te ergas mais da cova.
Olha a noite, olha o vento. Em ruÃna a casa nova...
Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve.
Não venhas mais ao lar. Não vagabundes mais,
Alma da minha mãe... Não andes mais à neve,
De noite a mendigar às portas dos casais.
Camilo Pessanha (1916, Centauro)
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Ninguém te virá salvar, humanidade. Ninguém virá morrer por ti.
Não esperes. Cumpre.
Não blasfemes. Avança.
Não pisoteies, não batas no peito, não aldrabes. Vive.
Tudo é gordura, unto e asco.
Se olho, a verdade revela-me orgulho demais, preconceito edificado.
Pára, pára, pára! por que é tempo.
Tempo de entender que não nascemos iguais.
Tempo de perdão.
Tempo de humildade.
Deus... meu Deus...